POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Basil_Bunting
BASIL BUNTING
( Inglaterra )
(Northumberland, 1 de Março de 1900 - Hexham, 17 de Abril de 1985) é um nome importante do modernismo anglo-americano deste século, tendo sido o único poeta inglês a participar do grupo de poetas objetivistas. Autor de uma obra reduzida, é o poeta inglês mais conhecido nos Estados Unidos.
Notícia biográfica
Busil Bunting foi amigo de Ezra Pound em Rapallo, na Itália. Posteriormente, Bunting tornou-se marinheiro. Encorajado por Pound publicou os primeiros poemas e tornou-se amigo de outro protegido do principal nome do primeiro modernismo de língua inglesa, o poeta norte-americano Louis Zukofsky, principal teórico do Objetivismo.
No decorrer da II Guerra Mundial, o poeta inglês foi mandado para a Pérsia a serviço da RAF, país que passou a fasciná-lo, onde conheceu sua segunda mulher.
Por viver longe dos meios literários de seu país, foi reconhecido tardiamente, somente aos 66 anos de idade, mas com entusiasmo na Inglaterra. Tal projeção somente se deu com ”Briggflatts”, onde explora a linguagem e a cultura de sua terra natal.
Ezra Pound dedicou seu Guide to Kulchur, de 1938, considerado por alguns como um livro fundamental para reflexão e como proposta avaliativa da poesia [1], a Bunting, juntamente com Louis Zukofsky. Segundo Pound, Bunting teria sido o descobridor de uma espécie de genoma de toda a poesia, ao encontrar em um dicionário a equação dichten=condensare[2].
Poética
Sendo autor de uma obra reduzida, a obra completa de Basil Bunting não chega a 300 páginas.
A necessidade de deixar a casa em função da guerra e de voltar para sua esposa é um dos temas obsessivos de Bunting.
Formalmente, se preocupou com aspectos sonoros da poesia, usando a fragmentação sintática da oralidade, como Pound e Jules Laforgue em poemas como ”Briggflatts”, classificado como o 76º melhor poema do mundo no século XX pela Folha de S.Paulo[carece de fontes], poema autobiográfico em que procurou explorar os aspectos linguísticos e antropológicos de sua região natal. Devido a esta preocupação com os aspectos sonoros e com a linguagem falada real, Basil Bunting sugeriu que o poeta componha em voz alta. Desta forma, escreveu o poeta que "muitas das concepções errôneas de poesia surgiram com o hábito da leitura silenciosa" [3].
Anteriormente, em seu First Book of Odes, de 1929, praticou uma poesia concisa e clássica à moda de Horácio .
Referências
↑ Como é possível avaliar a qualidade de um poema?. Dirceu Villa para Zunai - Revista de poesia & debates. 2009.
↑ Domeneck, Ricardo. Concretude de correnteza e densidade de redemoinho. Germina Literatura. Julho de 2008.
↑ Domeneck, Ricardo. O poeta verbivocovisual & multimedieval. Portal Cronópios. 11/8/2008.
Categorias:
Poetas da Inglaterra
Poetas do objetivismo
TEXTS IN ENGLISH - TEXTOS EM PORTUGUÊS
BASIL BUNTING. Briggflatts. Tradução Felipe Fortuna. Rio de Janeiro: Topbooks, 2016. 168 p. 20 x 23 cm. ISBN 978-85-7475-262-4 Bibl. Antonio Miranda No. 10 607
TEXTS IN ENGLISH
BRIGGFLATTS – An Autobiography
IV
Grass caught in willow tells the flood´s height that has subsided;
overfalls sketch a ledge to be bared tomorrow.
No angler home with empty creel through mist dims day.
I hear Aneurin number the dead, his nipped voice.
Slight moon limps after the sun. A closing door
stirs, smoke´s flow above the grate. Jangle
to skald, battle, journey; to priest Latin in bland.
Rats have left no potatoes fit to roast, the gamey tang
recalls ibex guts steaming under a cold ridge,
tomcat stink bolt to dwell on a round´s shining rim.
I hear Antonin number the dead and rejoice,
being adult male of a merciless species.
Today´s posts are piles to drive into the quaggy past
on which impermanent palaces balance.
I see Aneurim´s pectoral muscle swell under his shirt,
pacing between the game Ida left to rat and raven,
young men, all yesterday, withs cabled thighs.
Red deer move less warily since their bows discontent.
Clear Cymric voices carry well this autumn night,
Aneurin an Talesin, cruel owls
for whom it is never altogether dark, crying
before the rules made poetry a pedant´s game.
CODA
A strong song tows
us, long earsick.
Blind, we follow
a rain slant, spray flick
to fields we do not know.
Night, float us.
Offshore wind, shout,
ask the sea
what´s lost, what´s left,
what horn sunk,
what crown adrift.
Where we are who knows
of kings who sup
while day fails? Who,
swinging his axe
to fell kings, guesses
where we go?
TEXTOS EM PORTUGUÊS
IV
A grama presa ao salgueiro mostra a altura das águas que agora
desceram;
corredeiras esboçam um relevo a ser descoberto amanhã.
Nenhum pescador regressa com cesto vazio mas a névoa turva o dia.
Escuto Aneurino contar os mortos, sua voz mordida.
Leve lua a rastejar por trás do sol. Uma porta se fecha
e agita a fumaça que sai da grelha. Gritos
para o escaldo, a batalha, a viagem; ao padre o latim é suave.
Os ratos não deixaram baratas boas para assar, o fartum da caça
lembra os vapores das vísceras de um íbex sob uma escarpa fria,
odor macho de um leopardo morrendo enquanto eu de pé
abria o ferrolho para tomar posse de um aro redondo e brilhante.
Escuto Aneurino contar os mortos e alegrar-se,
macho adulto de uma espécie impiedosa.
Os postes de hoje são pilares enterrado num passado pantanoso
sobre o qual palácios transitórios se equilibram.
Vejo o músculo pastoral de Aneurino crescer sob a camisa,
andando entre a cação que Ida deixou aos ratos e ao corvo,
homens jovens, ontem altos, com coxas encordoadas.
Alces vermelhos movem-se ao menos alertas desde que seus arcos
caíram.
As garotas em Teesdale e Wensleydale acordam descontentes.
Claras vozes galesas levam bem esta noite de outono,
Aneurino e Teliesino, corujas cruéis
para quem nunca é de todo escuro, gritando
antes das regras terem feito da poesia um jogo de pedantes.
CODA
Um canto um tanto intenso
nos puxa, há muito ouvido.
Cegos, nós seguimos
chuva oblíqua, fugaz borrifo
rumo a campos desconhecidos.
Noite, flutue-nos.
Vento terral, grite,
pergunte ao mar
o que acabou, o que sobrou,
que chifre afundou
que coroa à deriva.
Onde estamos quem sabe
dos reis que bebem
enquanto o dia fracassa? Quem,
brandindo o machado
contra os reis, supõe
aonde nós vamos
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INIMIGO RUMOR – revista de poesia. Número 17 – 2º SEMESTRE 2003. Editores: Carlito Azevedo, Augusto Massi.
Rio de Janeiro, RJ: Viveiros de Castro Editora, 2005. 264 p.
ISSN 415-9767. Ex. bibl. de Antonio Miranda
AT BRIGGEFLATTS MEETINGHOUSE
Boasts time mocks cumber Rome. Wren
set up his own monument.
Others watch fells dwindle, think
the sun´s fires sink.
Stones indeed sift to sand, oak
blends with saints´ bones.
Yet for a little longer here
stone and oak shelter
silences while we ask nothing
but silence. Look how clouds dance
under the wind´s wings, and leaves
delight sin transience.
TEXTO EM PORTUGUÊS
Tradução de RICARDO DOMENECK
NA CÂMARA DE BRIGGEFLATTS
Cidade eterna metade escombros. Wren
ergueu o próprio monumento.
Outros escarpam planaltos abruptos, pensam
que os fogos do sol despencam.
Pedras sim quebram-se em areia,
misturam-se ossos de santos e madeira.
Permanecendo algum tempo ainda
pedra e areia abrigam
silêncios enquanto nada pede-se
além de silêncio. Olha a nuvem
sob asas aéreas e o deleite
das folhas no efêmero.
*
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Página publicada em dezembro de 2023 |